Hoje temos o prazer de conversar com Karol Rodrigues, uma referência no motociclismo feminino. Ao longo de sua trajetória, Karol tem inspirado mulheres a conquistarem seu espaço em um universo tradicionalmente dominado por homens. Com sua paixão por motos e uma mentalidade de quebra de barreiras, ela vem transformando percepções e mostrando que o motociclismo não tem gênero. Vamos falar sobre desafios, conquistas e o futuro das mulheres no mundo das duas rodas.
O motociclismo é um estilo de vida que muitas vezes reflete valores de liberdade, aventura e superação. No entanto, historicamente, ele tem sido associado ao público masculino, o que faz com que mulheres que escolhem essa paixão enfrentam caminhos desafiadores e, muitas vezes, solitárias. Sabendo disso, gostaria de começar a entender como tudo começou para você.
Pedro Hewitt – Olá, Karol. Tudo bem? É uma satisfação enorme poder compartilhar suas ideias aqui conosco. Como foi seu início no mundo do motociclismo? O que despertou seu interesse por esse universo que, tradicionalmente, é associado aos homens?
R. Desde muito cedo me identifiquei com tudo isso, com essa aventura, assistir em filmes e pensar, “Quero isso também” e sempre ouvi “Isso é coisa de homem” até conhecer uma pessoa incrível que tem um papel fundamental nisso tudo, Thiago Araújo, que já tinha uma trajetória grande nesse meio, no qual foi me mostrando que não era só coisa de homem.
Pedro Hewitt – O motociclismo, por muito tempo, foi visto como um ambiente masculino, e essa percepção ainda persiste em muitas culturas. Mesmo com o aumento da participação feminina, diversos motociclistas relatam experiências de preconceito, sendo muitas vezes subestimados em suas habilidades ou enfrentando comportamentos discriminatórios. Dados da Federação Internacional de Motociclismo indicam que, embora o número de mulheres no esporte esteja crescendo, elas ainda representam uma minoria: estima-se que apenas cerca de 20% dos motociclistas no mundo sejam mulheres. O cenário também revela uma lacuna na cobertura midiática e no apoio a mulheres pilotos, principalmente em competições profissionais. Você enfrentou desafios específicos para ser mulher nesse ambiente? Como foram suas experiências em relação aos preconceitos e barreiras de gênero no motociclismo?
R: Às vezes o preconceito começa de casa, quando dizem que é besteira, que isso não leva a nada, porém fomos muito bem recebidas por outros grupos, tivemos muito apoio no nosso início, fomos sempre respeitar por grupos masculinos, não com aquele olhar, “ah, é mulher”, foi com aquela visão, ‘’vocês também têm lugar’’ sabe, tivemos preconceito vindo de outros grupos de mulheres, incrível né? Por idade, por exemplo, já que somos bem novas nesse meio e super inexperientes quando começamos. Porém a única função disso tudo é mostrar que podemos sim conviver no mesmo ambiente e fazermos as mesmas coisas, e não importa a idade, a moto, o vento no rosto é o mesmo.
Pedro Hewitt – Na sua opinião, como o cenário do motociclismo feminino tem mudado nos últimos anos? Você percebe um aumento na participação de mulheres, ou ainda existem muitos estigmas a serem quebrados?
R: Sim, é notável esse aumento. Passar por lugares e sempre conhecer uma mulher que diz, “eu queria isso”, e não deixar só da boca pra fora, e tentar e ir atrás daquilo que desejou e por medo não tentou.
Pedro Hewitt – Quais iniciativas ou eventos você destacaria como importantes para o fortalecimento do motociclismo feminino? Existe algum grupo ou organização de mulheres motociclistas que te inspira?
R: Não costuma-se ter eventos que sejam apenas mulheres, (seria algo a se pensar justamente para quebrar essa barreira) porém, temos eventos como o motofest, que abrange muitas pessoas em geral , encontros aos domingos na estaiada na qual sempre encontramos algumas mulheres, mas ainda sim muito fraco o movimento vindo delas.
Estamos com um projeto chamado CCC MOTO ROCK, no qual temos mulheres envolvidas na organização justamente para igualar e mostrar que elas também tem um point legal na cidade. Sobre mulheres que me inspiram aqui, mesmo fora da nossa região, temos pessoas maravilhosas e que vem representando muito aqui em Teresina que se chama Monique Lima, ela vem quebrando todas as regras e mostrando que sim, temos nosso espaço aqui. Celina Martins, outra mulher de força e muita garra que vem rodando o Brasil afora contando suas experiências e inspirando muitas mulheres.
Pedro Hewitt – O motociclismo é frequentemente associado à liberdade, independência e superação de limites, características que têm um significado especial quando relacionadas ao empoderamento feminino. Para muitas mulheres, estar em cima de uma moto vai além de simplesmente pilotar; é uma forma de quebrar estereótipos, conquistar um espaço de pertencimento em um ambiente tradicionalmente masculino e, ao mesmo tempo, resgatar sua própria autonomia. Um estudo realizado pela Harley-Davidson revelou que 74% das motociclistas sentem-se mais confiantes e empoderadas ao andar de moto, destacando a força transformadora que essa prática pode ter no bem-estar mental e emocional das mulheres. O que o motociclismo representa para você em termos de empoderamento e liberdade pessoal? Qual a sensação de estar em cima de uma moto e como isso contribui para o seu bem-estar?
R: Eu acredito que o feminismo e suas teorias permitiram mudanças fundamentais justamente por questionar normas de gênero tradicionais e incentivar mulheres a desafiarem os estereótipos que ainda continuam a ser tão fixos. Isso se reflete no aumento da presença feminina em esportes considerados “masculinos”, e o motociclismo não foge disso. O feminismo promove o empoderamento feminino e permeou esse ambiente, assim como a Ideologia o motociclismo vem encorajando mulheres a assumirem o controle sobre suas vidas e suas escolhas. No motociclismo, isso se traduz em mulheres se sentindo mais confiantes para pilotar e quebrando barreiras, se sentindo libertas.
Pedro Hewitt – Como você enxerga a relação entre segurança e o motociclismo feminino? Existe uma preocupação extra das mulheres com equipamentos de proteção, ou essa é uma questão comum a todos os motociclistas?
R: Em si já é algo que no geral temos preocupações, com pneus, óleo ok, freios e por aí vai, porém mulher sempre é um negócio mais elaborado, uma preocupação extra, e se isso? E se acontecer aquilo? Será que vai precisar disso? E essa situação como se resolve? E aí que entra a coragem de meter a cara e fazer acontecer precisamos estar preparadas para qualquer situação.
Pedro Hewitt – Você acredita que o mercado de motos e acessórios está adaptado às mulheres, ou ainda há uma lacuna em termos de produtos e serviços voltados para o público feminino?
R. Tanto homens quanto mulheres devem priorizar equipamentos de proteção, mas as mulheres costumam enfrentar mais desafios na hora de encontrar roupas e acessórios adequados. Muitas marcas têm começado a desenvolver linhas específicas para mulheres, mas ainda há uma lacuna em termos de variedade e oferta.
Pedro Hewitt – Apesar do crescente número de mulheres no motociclismo, ainda existem receios, muitos deles ligados a estereótipos de gênero e questões de segurança. Esses fatores podem intimidar quem deseja entrar nesse universo, mas exemplos de mulheres motociclistas mostram que é possível superar esses obstáculos. Quais conselhos você daria para mulheres que desejam começar no motociclismo, mas têm receios, seja por questões de segurança ou pela visão estereotipada de que ‘motocicleta é coisa de homem’?
R: Não se privem, não tenham medo, observem, estudem sobre, não sintam vergonha de iniciar algo por vergonha ou medo, porém, só entrem realmente se for algo que vocês almejam, algo que gostem realmente, nada por status ou modinha, por que quando encontrarem o primeiro obstáculo, vão correr com medo. Sabemos dos perigos, mas é uma vida linda e só fica quem tem amor e sangue no olho.
Pedro Hewitt – Karol, você não só fez seu nome no motociclismo, como também idealizou o Paquitas MC, um clube de motociclistas femininas que ganhou reconhecimento pelas suas parcerias com outros grupos e clubes do Piauí, Ceará, Maranhão e além. Com uma presença marcante em encontros, eventos e ações solidárias, hoje, com outro nome, MEGERAS MOTOCICLISMO, tem mostrado que o motociclismo pode ser uma ferramenta de expressão e conexão para as mulheres, fortalecendo sua voz nesse meio. Como o motociclismo pode ser uma plataforma de expressão para as mulheres? Você acredita que a presença feminina pode influenciar o futuro desse esporte ou estilo de vida?
R: O motociclismo pode ser uma poderosa plataforma de expressão para as mulheres de várias maneiras; quebra de estereótipos, identidade e comunidade, auto expressão, inspiração e liderança, e por aí vai. Sobre a presença feminina influenciar, sim, com certeza a mulher sempre tem um toque diferente diante muita coisa.
Pedro Hewitt – Aproveitando a mesma linha de raciocínio; porquê a mudança de nome?
R: Iniciamos o nosso grupo com esse nome,, PAQUITAS e com o passar dos tempos fomos moldando muitas coisas com o que realmente parecia com a gente, vivemos muitas coisas com esse nome, entretanto chegou um momento que a gente não se identificava com esse nome, foi como uma garotinha que cresceu e foi passar por algumas mudanças e saídas que alteramos para um nome que parecia realmente com a gente, buscamos sempre em detalhes e aí surgiu o MEGERAS, com aquela pegada que só quem nos conhece sabe.
Pedro Hewitt – Com uma trajetória consolidada no motociclismo e tendo à frente o sucesso da MEGERAS MOTOCICLISMO, vocês já demonstram o devido compromisso em promover a participação feminina e fortalecer o motociclismo como uma plataforma de inclusão. Além de suas ações em eventos e parcerias, a curiosidade sobre seus próximos passos no motociclismo cresce, especialmente quanto a novos projetos voltados para o incentivo às mulheres.
Quais são seus próximos planos no motociclismo? Existe algum projeto específico envolvendo o incentivo à participação feminina ou algo que você gostaria de realizar nos próximos anos?
R: Nada em mente até o momento por motivos pessoais, mas seria algo interessante um encontro que fosse anual com mulheres, contando suas experiências, suas trajetórias, algo que abrangesse todas sem qualquer tipo de rivalidade e desigualdade.
Pedro Hewitt – Obrigada, Karol, por compartilhar sua história e suas experiências. Seu trabalho no motociclismo inspira muitas mulheres a ocuparem espaços de liberdade e força. Estamos ansiosos para acompanhar seus próximos passos e conquistas!
R: Fico muito grata e honrada por você ter pensado no MEGERAS MOTOCICLISMO no que se refere a um grupo de motociclistas feminino em THE, e que acho a matéria muito importante para quebrar pontos focais de misoginia dentro desse meio. Desejo que mais mulheres se juntem e que a pauta tenha mais visibilidade, em especial agradeço a você, que no nosso início como Paquitas apoiou muito, sempre dando um espaço em seus eventos e ações.
Para mais informações do grupo/clube: @megeras_motociclismothepi